II Ciclo de Conferências – “Tertúlias de Arquitectura”
Inicia-se amanhã, pelas 18.00h, no auditório principal, o II Ciclo de Conferências – Tertúlias de Arquitectura do curso de Arquitectura e Urbanismo da Universidade Fernando Pessoa, no Porto (ao jardim de Arca de Água). O primeiro conferencista é o arquitecto Pedro Santiago, de quem já aqui falámos.
Apesar de o tema se ter vindo a aplicar apenas a novos docentes da nossa faculdade, confesso que este modelo de tertúlias “um livro, uma obra, um autor/arquitecto” é o que mais me entusiasma. Não retirando qualquer mérito a outras tertúlias com temas diferentes deste, julgo que o factor surpresa que acompanha este modelo é cativante e as descobertas têm sido gratificantes. Esta não foi excepção.Apesar das, ainda muitas, faltas de presença, foi agradável assistir a um auditório quase cheio e participativo.A minha opinião,(sem validade no momento, porque ainda não sou mestre nem doutora, sendo que me catalogaram a mim a todos os meus colegas estudantes como seres incapazes de, por si só, formularem opiniões dignas de aceitação universal), é de que o Homem se debate com uma questão de muito difícil resolução: assumir um erro da Humanidade!Contudo, não me quer parecer que essa consciencialização do erro, aliada a uma intenção crescente de o corrigir, leve obrigatoriamente a retroceder no tempo levando-nos a situações de tal precariedade como algumas que foram descritas. O “complexo ecológico” como recentemente, a propósito de um exercício de projecto lhe decidi chamar, é algo que tem de ser ultrapassado, demolindo o ideal de “cabana de madeira” que emerge na mente humana sempre que o assunto é “sustentabilidade” . Bem, sustentabilidade já um termo secundário que permite a desconexão com ambientalistas fundamentalistas que afastaram este tema do cidadão comum que o entende como não sendo do seu domínio. Mas, na realidade é. É e abrange-nos a todos. Mas também compreendo que o cidadão se chateie quando quer entrar na “onda ecológica” poupando água, separando os lixos, adquirindo produtos biodegradáveis… quando depois assiste a camiões de recolha dos ecopontos ( como acontece na minha terriola lá no alto Minho) que recolhem tudo para o mesmo “buraco”, à excepção do papel e do vidro. E o que é que o cidadão diz? Não gozem comigo! e Toca a mergulhar numa banheira cheia de água e espuma para descontrair dessa realidade a que assistiu.Resta-me dar os parabéns ao Prof. Pedro Santiago por nos ter brindado com este tema e garantir, caso hajam dúvidas, que preferia ter assistido a esta tertúlia numa sala sob sistema de bioclimatização , do que ter “gramado” com o ar condicionado naquela gaiola envidraçada.
A problemática ambientalista/ecológica abordada na conferência do Pedro Santiago é, do meu ponto de vista, um tema incontornável no actual debate sobre a arquitectura e a cidade. Um dos primeiros sintomas desta nova condição no discurso arquitectónico ficou registado no documento A declaration of Interdependence redigido em Junho de 1993 (um ano após a Cimeira da Terra), no World Congress of Architects em Chicago, onde os arquitectos, conscientes das novas solicitações políticas, sociais e ambientais que então se sentiam, se comprometem concretamente a: “Considerar as questões de sustentabilidade social e ambiental como aspectos fulcrais do processo de projecto; Desenvolver práticas, procedimentos, produtos e serviços inovadores de modo a promover o design sustentável; Informar colegas, clientes e público em geral sobre o valor e urgência de um design sustentável; Trabalhar no sentido de que o património edificado existente se aproxime desses design standards.”Se compararmos esta Declaração com a Declaración de Barcelona sobre Edificación Sostenible, assinada em Maio de 2003 pelo presidente da União Internacional de Arquitectos (UIA) – Jaime Lerner – (entre outros) encontramos diferenças significativas: “Hoje as cidades e os edifícios são responsáveis por metabolismos urbanos que podem contribuir para fortes desequilíbrios, com grandes consequências para a preservação do planeta; A complexidade dos problemas ecológicos da humanidade não deve conduzir nem ao derrotismo nem à aceitação acrítica de um crescimento descontrolado do habitat mundial; Os fenómenos urbanos de conturbação e crise produzem conflitos que devem ser estudados sob uma nova visão e utilizando novas ferramentas.”De facto, minha cara rqlta, os 10 anos que separam estas duas declarações parecem ter sido suficientes para descobrirmos (estudantes, mestres ou doutores…) que as tais verdades universais (que na 1ª declaração surgem camufladas sob conceitos como “design sustentável” e “design standards”) não eram mais do que… panaceias! Hoje, para além de termos uma consciência mais clara da verdadeira “complexidade dos problemas ecológicos”, sabemos também estar ainda longe de dominar as ferramentas técnicas, científicas e filosóficas capazes de com ela dialogar.De facto, a performance ecológica de um edifício não se cinge à sua capacidade para lidar com as intempéries, ao seu desempenho energético ou à sua habilidade para se inserir correctamente na sua envolvente natural ou urbana. Ela manifesta-se fundamentalmente no modo com estes aspectos dependem e se inter-relacionam com uma consciência antropológica e social do projecto informada a partir de uma nova perspectiva ecossistémica do “Lugar”. E deste ponto de vista, estamos todos ainda a começar a aprender….
Cara rqltaSeja muito bem-vinda ao “arquitectura em pessoa”. Muito obrigado pela participação. Depois do comentário de lpf, nada tenho a acrescentar. Porém sobre a sua observação inicial, quanto à suposta “não aceitação” da opinião dos estudantes, gostaria de dizer que neste espaço TODAS as opiniões são igualmente válidas, desde que devidamente formuladas e identificadas. Este é um espaço de debate e reflexão, de formulação de ideias e troca de opiniões que se pretende o mais livre e aberto possível… A ver vamos se se cumpre o objectivo.Mais uma vez muito obrigado e… volte sempre.Cumprimentos
Confesso que não vinquei o suficiente o cariz irónico da minha deixa relativa à opinião dos alunos. Era apenas uma crítica descontraida a uma das alineas do tratado de bolonha sobre dissertações de discentes, obviamente não aplicável neste ou em qualquer outro blog. O intuido era o de que esta fosse uma pequenina e animada critica. Prometo reformular o meu sentido de humor numa próxima intervenção. Sem relação com este tema, gostaría de felicitar quem colocou o artigo do jornal Público na sala 107 num destes dias (de quem a assinatura não identifico). Espero que no nosso “placard” surjam algumas tentativas de resposta a tão complexo tema. Iniciei há cerca de dois anos o meu interminável processo de reflexão sobre a “beleza” na arquitectura (para aplicar o termo lançado), se um dia chegar a uma conclusão, terei todo o gosto de a partilhar.Até breve
É bom assistir a algum debate no formato do blog. Espero que as tertúlias encontrem aqui um canal de prolongamento e reflexão. Gostaria apenas de acrescentar, um pouco em resposta aos comentários já publicados, que a sustentabilidade na arquitectura e estendendo à própria sociedade, uma vez que é um tema que nos preocupa há muito pouco tempo (talvez fruto da nossa própria evolução natural), encontra poucos pontos de referencia e de apoio para ser solucionado (se é que isso será alguma vez possivel). A nossa história nunca atravessou um periodo como o do sec. XX e que se vai estender ao sec. XXI, em que o Homem se sente ultrapassado pela sua própria evolução. Esta situação tem tornado o Planeta uma grande trapalhada em que vai ser dificil sobreviver, e nós temos consciencia disso, mas não estamos muito certos de como o resolver. Assim sendo, e certos de que nos séculos passados o impacto ambental e ecológico era muitissimo inferior, será natural que a inspiração para a resolução dos nossos problemas actuais seja a nossa própria história, como o é para muitos outros ramos e campos da evolução. A cabana de madeira, a casinha da aldeia, as sociedades menos “evoluidas”, servem como ponto de reflexão, de questionamento, o que nos pode trazer inspiraçã para resolvermos alguns problemas. Não me parece que quando se invocam esses modelos ancestrais, a atitude seja “vamos deixar de evoluir e fazer tudo como antigamente, porque assim é que estava bem!”, mas antes servirmo-nos desses mesmos modelos como inspiração para uma evolução mais consciente.
Cara rqltaSeja bem-vinda de novo ao “arquitectura em pessoa”. Como se costuma dizer: “A brincar, a brincar… se vão dizendo as verdades”. Ainda bem que assim é. Ficamos satisfeitos pela explicação, embora tenhamos que nos penitenciar por não termos entrevisto logo esse carácter irónico do seu comentário. Quanto à questão do artigo do “Público”, não faço ideia de quem o terá colocado na sala 107, o que posso dizer é que o “arquitectura em pessoa” está aberto ao diálogo e ao debate, por isso, se quiser publicar algum texto, basta enviar para o nosso “e-mail” o texto devidamente identificado (se quiser manter anonimato, nós publicamos anonimamente, guardando a identificação para nós…). Queremos ver então esse trabalho sobre a “beleza” na arquitectura. Venha ele para nós publicarmos…Mais uma vez obrigado pela participação.Um abraço e até breve
Caro “Santi”Antes de mais, muito obrigado pela participação. A ideia é, precisamente, que o “arquitectura em pessoa” seja um espaço de reflexão e opinião, assim como de prolongamento do debate no âmbito das próprias “tertúlias”… Quanto à questão do desenvolvimento sustentável estamos completamente de acordo. Há muito que aprender com as outras culturas e civilizações…Por último apenas uma chamada de atenção para o facto da necessidade de que os artigos e comentários publicados neste espaço estarem devidamente identificados. (Se quiser manter o anonimato, basta enviar a mensagem, ou artigo, por e-mail, devidamente identificado, que nós publicamos anonimamente). Obrigado mais uma vez.Abraço e até breve.