Casas de papel


Arquitectura chinesa “dá cartas”

O tema do pavilhão chinês na edição deste ano da bienal de arquitectura de veneza foi “arquitectura vulgar”, com o seu pavilhão dividido em dois sub-temas – negociação e crescimento diário.Seja com o cliente, o local, o orçamento, o código ou outras condicionantes, a negociação tornou-se um aspecto muito importante do processo criativo e da carreira do arquitecto.

Para os arquitectos a negociação é sempre estratégica e conduzida pelo desenho e responsabilidade social. Os projectos de negociação do pavilhão chinês abordam a temática da recente tragédia do terramoto de Sichuan e como os arquitectos podem responder a circunstancias tão extremas.
Enquanto abordagem a tecnologias construtivas e sistemas socio-económicos para além do normal, os arquitectos são também responsáveis por negociarem com a natureza.

O projecto do Arq. Li Xinggang, “casa de tijolos de papel” lidou com este assunto. Num curto espaço de tempo a urbanização da china resultou num grande número de projectos e edifícios construídos, testando pessoas, edifícios, o ambiente e o controlo de qualidade das cidades.
O objectivo da “casa de tijolos de papel” foi o de construir uma casa de papel que fosse funcional e permitisse às pessoas desfrutarem das suas vidas no ócio, trabalho, convívio e actividades base do dia a dia. A casa está construída com caixas de papel que anteriormente continham resmas de papel e se comportam basicamente como tijolos. Cilindros de papel reutilizados foram usados como suporte estrutural, actuando como vigas, lajes de pavimento e de cobertura.Esta obra é um tributo às dezenas de milhares de pessoas que ficaram soterradas após o terramoto, como resultado do comportamento inadequado do betão nos edifícios. É uma resposta alternativa para lidar com a relação natureza- arquitectura.

É uma abordagem muito mais maleável à natureza, oposta à tipica, pesada estrutura de betão dos ambientes urbanos. As caixas e tubos de papel do projecto transmitem-nos a nova abordagem mais orientada ao produto e produção em série do desenho arquitectónico chinês.
Manifesta-se como uma sugestão aos arquitectos e apresenta-se como uma solução de construção rápida sem esquecer a qualidade e o desenvolvimento de estratégias para lidar com este tipo de situações que deve sempre ser considerado. Uma estrutura em forma de jangada de tubos de papel em sacos de rede cheios com cascalho, uma típica estrutura sísmica que estabelece analogias com a tradição da construção em Veneza – uma cidade que flutua em cima de camadas submarinas de lodo.
O foco central da casa é um pátio interior típico da tradição chinesa, realçando a relação do edifício com a rua e infraestruturas vizinhas, actuando como um espaço público, providenciando um lugar de descanso para visitantes e demais transeuntes que queiram parar e descansar. Esperemos que não chova…

Arq. Pedro Santiago

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