Sobre o concurso de Lordelo do Ouro

O concurso de ideias para a requalificação do estaleiro do Ouro foi muito concorrido, como se pôde vêr aqui, aqui ou ainda aqui.
O resultado final deu a vitória ao Tiago Vidal e a Isabel Carvalho, dois jovens arquitectos que não se incluem no “star system” da arquitectura e que venceram o concurso muito por culpa da proposta constar de um respirad’ouro.
O respirad’ouro é uma espécie de órgão musical que funciona com o movimento das águas marítimas, provocando vários sons. Esta ideia tem já um antecedente Croata que se pode observar no Youtube com o nome de “sea organ”. A descrição do projecto já foi publicada nos jornais nacionais, nomeadamente o Público que lhe atribui algum destaque.
Pessoalmente conheço o Tiago Vidal há muitos anos e aproveito o momento para o felicitar pela vitória, situação qua aliás me apraz muito, pois estou bastante cansado de observar os concursos transforarem-se numa estranha compilação de poderes repetidos.
No entanto, a questão que nos deve fazer pensar um pouco será o “leit motiv” da proposta, que partindo de uma ideia “original” apresenta-se como uma contemporânea peça de marketing – agora o rio Douro terá um sítio que o fará “falar” – um arquitecto colocou música utilizando as ondas do Mar. Ora basta lançar palavras como conceitos que elas aplicar-se-ão: Sustentabilidade, novas energias limpas, originalidade, turismo, mercado, atracção, natureza/artificial, real/virtual.
Creio que o tema tão neo-vanguardista destas tentações arquitectónicas de oferecerem valores sensoriais que colidem com a própria natureza, acaba por esvaziar a importância dos próprios arquitectos. Estarei, como podem vêr, bastante crítico em perceber um órgão oceánico que não me parece muito enraízado na matriz cultural ligada ao Douro, nem na própria relação da cidade do Porto com o seu Rio.
Creio que a discussão terá algum interesse, mas o facto de não conhecer aprofundadamente a proposta e a sustentação teória ou conceptual dos arquitectos vencedores inibe-me de realizar uma crítica fechada e de maior amplitude.

Por outro lado, diga-se em abono da verdade que o facto de eventualmente desenvolvermos uma crítica sobre a concepção do projecto não invalida que não entenda bem mais justificada a atribuição desta obra ao Tiago, do que a muitas das “hibridas” propostas dadas a arquitectos famosos, que ainda por cima não gostam de discutir as suas opções.
Finalmente, por isto e porque a UFP tem trazido muitos dos arquitectos representantes da nova geração a falar de arquitectura, creio que se justifica uma das nossas tertúlias e empenhar-me-ei nesse convite, que espero vêr aceite.
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